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Por Julianne Gouveia

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso) faz parte da vida da pesquisadora Tatiana Dunshee. Graduada em Turismo, ela participou em 2007 de um estágio voluntário na unidade de conservação (UC) que ocupa mais de 20 mil hectares e abrange os municípios de Teresópolis, Petrópolis, Magé e Guapimirim (Região Serrana do Rio de Janeiro). A paixão pela biodiversidade despertada pela vivência com a fauna e a flora do parque a levou à Licenciatura em Ciências Biológicas.

Há dez anos, Tatiana Dunshee compartilha seus conhecimentos em atividades recreativas para crianças e famílias. Toda essa experiência foi fundamental para que ela chegasse ao Mestrado em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde da Casa de Oswaldo Cruz, onde defendeu no ano passado a dissertação ‘O potencial da divulgação científica pelo modelo dialógico do Engajamento Público no Parque Nacional da Serra dos Órgãos’. “A participação do público nas pesquisas científicas em unidades de conservação é uma excelente estratégia para maior conscientização sobre a importância da biodiversidade”, explica ela em entrevista para a seção ‘Conta Aí, Mestre’, que conta com perguntas enviadas pelos seguidores das redes sociais do Museu da Vida. Confira:

Julianne Gouveia (@_amarelodeserto): Oi, Tatiana! Explica pra quem é leigo o que é essa ideia de engajamento público da ciência e como os projetos que você estudou estão relacionados a isso, por favor ;)
Tatiana Dunshee: De maneira geral, o engajamento público está relacionado com a participação ativa de públicos por meio do diálogo aberto e igualitário entre cientistas e não especialistas em diversos aspectos da ciência, como a política de ciência e tecnologia (C&T), a cultura e a pesquisa científica. Os projetos que estudei envolveram a participação do público em pesquisa científica no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso). Esta prática vem sendo chamada de Ciência Cidadã.

Julianne Gouveia (@_amarelodeserto): Pelo que você pesquisou, como os projetos mobilizavam os voluntários e que estratégias comuns podem, talvez, ser replicadas em outros espaços?
Tatiana Dunshee: Muito boa essa pergunta! Os projetos mobilizaram voluntários que já estavam relacionados com a área ambiental, ou seja, o perfil era majoritariamente de estudantes universitários de áreas afins e profissionais que já vêm atuando como guias de turismo ou como voluntários na área ambiental. Em termos de adoção de estratégias comuns para outros espaços, as pesquisas sobre engajamento público apontam para a necessidade de apoio aos objetivos pessoais dos participantes (relacionados a motivação pessoal, custos de participação e requisitos de tempo) junto com os aspectos sociais de envolvimento.

Roberto Takata (@rmtakata): Como foi o engajamento com a comunidade do entorno? Os moradores se envolveram na pesquisa de alguma forma?
Tatiana Dunshee: Oi, Roberto! Sua pergunta envolve um dos aspectos cruciais da pesquisa. Embora os dois programas tivessem os moradores do entorno como público-alvo, a política de inscrição e seleção dos programas direcionou o contexto sociocultural para aqueles que são alfabetizados, com nível de escolaridade alta, que possuem acesso à internet e acompanham os sites institucionais, redes sociais com essas temáticas ou já são envolvidos com o parque. Em projetos futuros, o interessante seria atuar de forma integrada com as comunidades do entorno por meio das associações (moradores, produtores rurais, organizações filantrópicas), líderes comunitários e secretarias municipais, de forma a favorecer a comunicação e a relação com esses outros públicos sociais menos privilegiados que, com freqüência, são excluídos de atividades de divulgação científica.

Fernando Alves (/fernando271986): Oi, Tatiana, parabéns pela pesquisa! Sendo pesquisa com público de voluntários, como foi a abordagem para convencer as pessoas a participarem da pesquisa? E qual foi a margem de aceites x negativas durante a abordagem?
Tatiana Dunshee: Oi, Fernando. Muito obrigada e parabéns para nós! Essa questão é sempre um temor para quem trabalha com ciência social. Mas, por incrível que pareça, eu não tive dificuldades. A escolha dos participantes foi feita de forma aleatória. Eu sorteei seis números pelo programa Excel®, os coordenadores de cada programa relacionaram com o número de inscrição dos participantes e me retornaram com o nome e contato dos mesmos. Todos me atenderam e foram super solícitos, ou seja, foram 100% de aceites. Acredito que o que facilitou foi que, com alguns dos sorteados, eu já tinha tido contato anteriormente no parque. 

Julianne Gouveia (@_amarelodeserto): De que maneira a divulgação científica e esse engajamento dos voluntários na causa ambiental podem influenciar em políticas públicas? Você percebeu algo nesse sentido junto aos entrevistados?
Tatiana Dunshee: Sim, Julianne! Esse foi um resultado bem promissor da pesquisa. Por exemplo, duas voluntárias se envolveram diretamente em espaços de governança após participarem dos programas: uma no próprio parque, por meio da Câmara Técnica de Turismo e Montanhismo, e outra em um plano diretor na região onde reside. Além disso, as diretrizes de ambos os programas orientavam para a questão da gestão participativa das unidades de conservação. Nesse aspecto, pensando a longo prazo, quanto maior o envolvimento do público em espaços de governança, como os conselhos gestores das UCs, maior é a experiência concreta de participação e de envolvimento do público junto à comunidade científica e aos gestores. A participação pública em assuntos científicos é uma forma de divulgar ciência e de promover maior engajamento em políticas públicas.

Diogo Neves (@profdiogociencias): Que estratégias devemos adotar para conscientizar as pessoas sobre a importância de preservarmos a biodiversidade brasileira?
Tatiana Dunshee: Oi, Diogo! Eu acredito que a participação do público nas pesquisas científicas em unidades de conservação é uma excelente estratégia para maior conscientização sobre a importância da biodiversidade. A título de exemplo, todos os voluntários entrevistados na minha pesquisa se envolveram em ações socioambientais após e por causa dos programas. Um voluntário criou um grupo para monitorar uma área em Magé com os moradores da região e vem alcançando resultados promissores. Outra voluntária, que nunca tinha vivido experiência anterior com o voluntariado, iniciou uma campanha para sinalizar uma rodovia para alertar motoristas sobre a travessia da fauna silvestre. Muito bacana, né? 

Publicado em 21 de janeiro de 2020

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