
Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida Fiocruz
Ano XXII - nº. 329. RJ, 12 de novembro de 2025.
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Começou no dia 10 e vai até 21/11 a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém do Pará. É a primeira vez que o evento anual é realizado na Amazônia e no Brasil. Quase 200 países estão reunidos na capital paraense para discutir e negociar ações de controle e combate à crise climática, um dos maiores desafios da atualidade. Não à toa, as expectativas são altas em relação aos desdobramentos da COP30. A fim de contribuir para o debate, entidades ligadas à ciência e à pesquisa elaboraram documentos com pontos que consideram fundamentais a serem incluídos nas negociações. A Fiocruz divulgou uma Carta Aberta na qual defende que a saúde seja tratada como eixo orientador da ação climática global, tendo em vista que “as mudanças climáticas ampliam doenças transmissíveis e crônicas, comprometem o acesso e a qualidade da água, dos alimentos e do ar, fragilizam territórios e intensificam sofrimentos psicossociais”, sobrecarregando os serviços de saúde. A Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência lançaram conjuntamente um documento visando fortalecer a articulação entre ciência, política pública e financiamento climático no contexto da COP30. O documento, que aponta tarefas fundamentais para o Brasil na COP30, argumenta que a ciência é elemento estruturante da governança climática, devendo orientar as políticas de mitigação e adaptação, os instrumentos financeiros e as estratégias de desenvolvimento sustentável. O Geledés – Instituto da Mulher Negra, visando reunir subsídios técnicos para dar maior visibilidade à questão racial na agenda climática, divulgou estudo realizado em parceria com a FGV- SP que evidencia a presença ínfima de menções a afrodescendentes ou racismo ambiental em agendas globais de desenvolvimento, clima e direitos humanos. Veja mais detalhes sobre o estudo na seção ‘Leituras’ da edição de novembro do Ciência & Sociedade. Além de expectativas, a COP30 chega também carregada de ceticismo, pessimismo e críticas, muitas delas relacionadas à falta de infraestrutura local para sediar um evento desse porte. Por mais que tais críticas sejam em parte legítimas, o debate ganhou novos contornos nas redes sociais nos últimos meses, com a circulação de um volume crescente de desinformação potencializada por inteligência artificial. Confira na seção ‘Especial Desinformação’ levantamento da coalizão internacional Climate Action Against Disinformation e do Observatório de Integridade da Informação mostrando que, em agosto, um volume grande de postagens sobre a COP com enorme alcance nas redes continha conteúdo enganoso sobre o evento. Ainda no contexto da COP30, divulgamos neste número do boletim dois lançamentos envolvendo a Fiocruz: do podcast “S.O.S! Terra Chamando!”, que une ciência e comunicação para tratar das urgências ambientais que ameaçam o planeta, e do Observatório de Saúde da População Negra, cujo objetivo é monitorar e avaliar as ações relacionadas à saúde voltadas à população negra e contribuir com o aprimoramento do acesso e da qualidade da atenção dessa população com base em evidências e na perspectiva da justiça social. Saiba mais sobre ambas as iniciativas na seção ‘Ações’. Confira ainda neste número do boletim matéria da Nature que discute a capacidade da inteligência artificial de ser criativa, nova revista de divulgação científica da UFRJ, webinário sobre descolonização dos museus, entre outras dicas de leituras, ações, eventos e oportunidades em divulgação científica. Boa leitura!
Especial Desinformação
Desinformação climática turbinada – Se há décadas os céticos do clima já atacavam as evidências que comprovam as mudanças climáticas antropogênicas, há poucos meses um novo tema entrou no repertório dos negacionistas: a realização da COP30. O evento, que acontece este mês em Belém do Pará, sofreu duras (e legítimas) críticas ao longo de 2025 ligadas à infraestrutura da cidade para receber os visitantes. Mas o debate ganhou novos contornos nas redes sociais, com a circulação de um volume crescente de desinformação potencializada por inteligência artificial (IA). Um levantamento da coalizão internacional Climate Action Against Disinformation e do Observatório de Integridade da Informação usou a ferramenta Brandwatch para monitorar menções à COP30 nas plataformas X, Instagram, Facebook, YouTube, Reddit e LinkedIn. Os pesquisadores observaram que, em agosto (último mês do estudo), 30 das 100 postagens sobre a COP com maior alcance nas redes envolveram conteúdo enganoso sobre o evento. Isso representa um aumento de 267% em relação ao mês anterior. O alcance médio dos posts (número estimado de pessoas que o viram) de agosto foi de 1,2 milhão! Um deles é um vídeo acompanhado da legenda “Esta é a Belém do COP30 que eles querem esconder do mundo”, onde uma repórter aparece com água nos joelhos, numa enchente na capital paraense. No entanto, nada no vídeo é real: ele é inteiramente feito com IA. Outras táticas desinformativas também são usadas, como a postagem de vídeos antigos como se fossem recentes e imagens de outros lugares degradados afirmando se tratar de Belém. Saiba mais em: <https://bit.ly/4pq5kvV>.
Leituras
A invisibilidade da questão racial na agenda climática – Impactos ambientais, econômicos, sociais e culturais negativos da crise climática afetam negros, povos indígenas e comunidades tradicionais de forma desproporcional. Contudo, um estudo da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV/SP), em parceria com o Geledés – Instituto da Mulher Negra revela que a dimensão racial ainda é um aspecto invisibilizado nos acordos internacionais sobre o clima. Visando reunir evidências e subsídios técnicos para fortalecer a incidência política do Geledés na Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, a equipe de pesquisadores do instituto mapeou 115 documentos sobre justiça racial, raça e outras interseccionalidades em agendas globais de desenvolvimento, clima e direitos humanos publicados entre 1992 e 2025. Análises quantitativas e qualitativas mostram que apenas 23% do material menciona afrodescendentes ou racismo ambiental. E quando a questão racial é mencionada, os textos são descritivos e sem força legal em 96% dos casos. Além disso, enquanto a vulnerabilidade de gênero e a pobreza são cada vez mais reconhecidas, o estudo sublinha que o racismo como eixo estruturante das desigualdades ambientais segue sendo omitido. Estes e outros resultados da pesquisa "A raça e o gênero da justiça climática: mapeando desigualdades na normativa global" estão disponíveis em: <https://bit.ly/4owsj8d>.
A IA pode ser verdadeiramente criativa? – Com os novos e rápidos avanços no campo da inteligência artificial (IA), está cada vez mais complexo responder a essa velha pergunta. Se na década de 1950, diante de uma computação ainda rudimentar, o matemático Alan Turing já defendia que não havia qualquer faculdade humana que não pudesse ser um dia replicada por computadores, hoje ele muito provavelmente diria que sim, que a IA é capaz de ser criativa. Mas o que é ser criativo? Em matéria publicada na revista Nature deste mês, a jornalista Jo Marchant aborda essas e outras questões sobre as capacidades das máquinas. O texto apresenta diferentes visões sobre o tema. De um lado, argumenta-se que às máquinas falta autenticidade, intencionalidade e experiência de vida, ingredientes que seriam inerentes ao processo criativo. De outro, defende-se que as limitações atuais da IA para ser criativa resulta do modo como elas têm sido desenvolvidas – e que elas poderiam muito bem ser treinadas para ter autonomia e motivação. Não surpreende que, na matéria, as visões mais negativas venham de cientistas das humanas, que temem o impacto da IA na sociedade atual, e as mais entusiasmadas sejam expressas por cientistas das exatas, ansiosos para testar os limites de suas invenções. Está claro que essas questões envolvem, além de avanços tecnológicos, aspectos éticos, econômicos, socioculturais, entre outros. E talvez por isso não seja possível responder objetivamente a questão de partida usando “apenas” a ciência. Leia o texto na íntegra em: <https://bit.ly/3LyZdGU>.
A função educativa dos museus – A revista Museologia & Interdisciplinaridade acaba de lançar um dossiê que busca integrar reflexões sobre a função educativa dos museus e processos museais em sintonia com o pensamento contemporâneo em museologia, debatendo a formação de educadores museais, condições de trabalho, pesquisas na área, uso de novas mídias e tecnologias, entre outros temas. São 17 artigos, englobando diferentes olhares, inclusive de pesquisadores da divulgação científica, como nos textos “Meninas no MAST – práticas e considerações sobre educação museal feminista na colaboração entre escolas públicas e o Museu”, “Sobre o que falamos quando o tema é crise climática? Análise de conversas emergidas em visitas de famílias à exposição Cambio Climático do Maloka (Bogotá, Colômbia)” e “A dimensão educativa dos museus e o Capital da Ciência – reflexões sobre Inclusão e Acessibilidade no campo científico”. Acesse gratuitamente o dossiê completo em: <https://bit.ly/49fW6xq>.
Ações
Saúde da população negra em foco – A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra foi instituída pelo Ministério da Saúde há mais de 15 anos, mas a sua plena efetivação ainda encontra obstáculos. Para enfrentar essa realidade, a Fiocruz, em parceria com a UFRJ e o Ministério da Saúde, lança o Observatório de Saúde da População Negra, desenvolvido ao longo de dois anos por meio de um processo de construção participativa, que reuniu gestores, pesquisadores, trabalhadores da saúde, usuários, movimentos sociais e representantes da sociedade civil. O objetivo da iniciativa é monitorar e avaliar as ações voltadas à população negra e contribuir com o aprimoramento do acesso e da qualidade da atenção à saúde dessa população com base em evidências e na perspectiva da justiça social. O evento de lançamento do Observatório acontece no dia 18/11, com programação das 9h às 16h30, no auditório térreo da Ensp/Fiocruz. Haverá transmissão ao vivo pelo canal @enspcci no YouTube. Confira a programação em: <https://bit.ly/3XnRoX1>.
Novo podcast aborda a crise climática – No mês da COP30, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) lançam o podcast “S.O.S! Terra Chamando!”, que une ciência e comunicação para tratar das urgências ambientais que ameaçam o planeta. Serão ao todo 13 episódios, veiculados às segundas-feiras, às 22h30, na Rádio MEC, e às terças, às 23h, na Rádio Nacional. Às quartas-feiras, o conteúdo do episódio da semana fica disponível no site da EBC, no Spotify e no YouTube, acompanhado de materiais complementares – o primeiro já está disponível; corre lá para ouvir! Idealizado, roteirizado e apresentado pela jornalista da EBC Adrielen Alves, o podcast propõe uma abordagem inovadora ao combinar elementos de documentário e radionovela. Saiba mais sobre a iniciativa em: <https://bit.ly/4i1DtzG>.
Nova revista de divulgação científica – A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lançou no dia 5/11 a revista Minerva, publicação bimestral dedicada a divulgar as pesquisas, a produção intelectual e o pensamento científico da instituição. A publicação, que terá uma tiragem de 2,5 mil exemplares, além de uma versão digital e da versão infantil Minervinha, faz parte de um projeto de divulgação científica da UFRJ que contará ainda com um portal, um banco de fontes de pesquisadores da universidade, um podcast, redes sociais integradas, programas de formação em divulgação científica e um sistema de monitoramento da imagem institucional. Mais informações em: <https://bit.ly/4nTNv7h>.
Eventos
Webinário discute descolonização em museus – No dia 24/11, às 10h (horário de Brasília), acontece o webinário “Descolonizando práticas museais: um diálogo entre Brasil e Europa”. O evento, organizado pela plataforma Europeana-Communicators, visa promover o diálogo entre profissionais de museus das duas regiões sobre descolonização e repatriação, além de incentivar o intercâmbio de experiências práticas e de pesquisa. A inscrição é gratuita. Mais informações em: <https://bit.ly/4oDpfay>.
Oportunidades
Workshop ‘Acelerando o progresso climático com IA' – O evento, gratuito e promovido pela National Academies (EUA) em 13 e 14/1/26, vai explorar formas inovadoras pelas quais a IA pode aprimorar a ciência climática e apoiar a tomada de decisões para resiliência e mitigação. Os interessados podem participar presencialmente ou de forma remota. Acesse mais informações e inscreva-se em: <https://bit.ly/4qRw6ih>.
Doutorado-sanduíche em educação em ciências e saúde – O Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde do Instituto Nutes da UFRJ, no Rio de Janeiro, está oferecendo nove vagas para estudantes estrangeiros fazerem parte do seu doutorado no programa. Os idiomas aceitos são português, espanhol e inglês. As inscrições podem ser feitas até as 17h (horário de Brasília) do dia 30/12. Mais informações em: <https://bit.ly/3WQPyxS>.
Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.
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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.
* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.
Publicado em 15 de outubro de 2025.


