Injetor a jato - pistola de vacinação
Material: metal
Local: New Jersey, USA
Fabricante: Scientific Equipment Manufacturing Corporation (SEMCO)
Você já parou para pensar no desenvolvimento da forma de se vacinar uma pessoa? A pistola de vacinação faz parte de um avanço tecnológico: foi um objeto importante na campanha mundial de erradicação da varíola. Este instrumento portátil funcionava com um mecanismo de ar comprimido, que, quando acionado por um pedal, proporcionava uma poderosa fonte de pressão. Sem o uso de agulha, a administração percutânea da vacina se dava através de um fluxo de alta pressão.
Inventada por médicos militares norte-americanos, criada no final dos anos 1950, ela tinha como objetivo agilizar a vacinação de grandes grupos de pessoas. Foi utilizada, inicialmente, para vacinar militares e prisioneiros em presídios. As modificações mais significativas ocorridas no dispositivo foram o desenvolvimento de um bico especial para inoculações intradérmicas e o acionamento pneumático, desenvolvido em 1963 por Aaron Ismach e Chester Eppley, ambos do Laboratório de Desenvolvimento de Equipamentos Medicinais do Exército dos Estados Unidos. Este novo modelo operado por pedal tornou-se popularmente conhecido como Ped-O-Jet.
Outras técnicas também eram utilizadas na aplicação da vacina antivariólica, como o uso de agulhas e lancetas, mas as pistolas tornaram-se revolucionárias pela sua capacidade de realizar vacinações em massa, o que foi um facilitador para as campanhas realizadas na América Latina e na África Ocidental.
A Campanha Mundial para a Erradicação da Varíola, lançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi organizada para imunizar várias pessoas contra a doença que já estava extinta na Europa e na América do Norte. No final dos anos 1960, quando a campanha foi intensificada, a OMS investiu na imunização em países endêmicos nos continentes sul-americano, africano e asiático, estabelecendo normas para a fabricação e o controle de qualidade das vacinas.
A pistola de vacinação deste Objeto em Foco foi doada pelo médico epidemiologista Claudio Amaral Júnior, que trabalhou na estruturação da campanha de erradicação da doença no Brasil e coordenou a vacinação nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e Paraná. Amaral também atuou como consultor da OMS nas campanhas de erradicação na Índia e na Etiópia, entre 1973 e 1980, onde foram identificados os últimos casos de varíola.
Na América Latina, as campanhas de erradicação ocorreram nos dois países que ainda registravam casos da doença: Argentina e Brasil. Como a varíola ainda era endêmica no Brasil, o governo brasileiro investiu na vacinação em massa, na organização de uma rede de vigilância epidemiológica e na criação de laboratórios de referência para apoiar o programa de erradicação. O somatório desses esforços possibilitou, em 1972, a erradicação da doença no continente americano.
Apesar de eficiente por permitir a vacinação de muitas pessoas rapidamente, a pistola era um dispositivo caro e exigia constante manutenção, além de uma capacitação especial para os profissionais. Outras preocupações foram somadas a sua utilização. Havia a preocupação de que esse dispositivo propagava outros vírus transmitidos pelo sangue, como os da hepatite C e o da Aids. No final da década de 1990, as pistolas pararam de ser fabricadas.
Este instrumento testemunha a vitória sobre uma terrível doença, extinta graças às ações conjuntas de médicos, cientistas, técnicos, enfermeiros e educadores, sempre articulados com políticas públicas locais e mundiais de saúde.
Para saber mais:
CASA DE OSWALDO CRUZ. Departamento de Arquivo e Documentação. Fundo Cláudio Amaral. Disponível em: http://basearch.coc.fiocruz.br/index.php/claudio-amaral
JET INSJECTORS. Military Jet Injectors: Ped-O-Jet. Disponível em: https://jetinfectors.com/2017/10/03/military-jet-injectors-ped-o-jet/
PÔRTO, Ângela. Vacinas e Campanhas: as imagens de uma história a ser contada. História, Ciência, Saúde – Manguinhos, vol 10 (suplemento 2): 725-42, 2003.
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Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a responsabilidade de Pedro Paulo Soares e Inês Santos Nogueira.