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Porta-placas de nagativos de vidro. Créditos: Luana Nunes / Museu da Vida Fiocruz

 

O que fotografia e vidro têm a ver um com o outro? E com a ciência? Para além das memórias nos porta-retratos, os negativos de vidro foram essenciais para os primeiros cliques, lá nos primórdios da fotografia científica. Nesta nova edição da série Objeto em Foco, vamos conhecer o porta-placas de negativos de vidro. O item faz parte do acervo museológico do Museu da Vida Fiocruz. 

 

A fotografia médica e científica nos primórdios do Instituto Oswaldo Cruz 

Nas maiores cidades brasileiras, de norte a sul do país, a fotografia marcou presença nos domínios da ciência a partir das últimas décadas do século XIX e início do século XX, . Isso ficava provado com a implantação de gabinetes fotográficos ou serviços de fotógrafos profissionais em hospícios, hospitais, museus de história natural e de antropologia, observatórios astronômicos, em grandes obras de engenharia, comissões e missões técnico-científicas, delegacias policiais e casas de detenção. 

A adoção da fotografia na época por indivíduos e instituições relacionadas a distintos campos e especialidades técnico-cientificas contribuiu para sua consolidação como ferramenta auxiliar de cientistas e médicos. Ela possuía atributos de prova de verdade, objetiva e impessoal, a exemplo do que afirmara Claude Bernard, em 1865, ao convocar seus pares a serem como fotógrafos dos fenômenos da natureza, no registro de suas manifestações com precisão e imparcialidade. 

No Rio de Janeiro, o médico e sanitarista Oswaldo Cruz (1874-1917) foi responsável pela introdução da fotografia na instituição de pesquisa científica que dirigia e que levaria seu nome a partir de 1908. Apaixonado pela fotografia como arte e técnica, recebeu de seus discípulos o singelo apelido de Doutor Fotógrafo por causa da câmera que levava a tiracolo e que utilizava com frequência. Nas instalações do Instituto Oswaldo Cruz, existia um gabinete fotográfico e cinematográfico, equipado com modernos instrumentos e acessórios de fotografia importados da Europa. 

 

Aparelhos fotográfico e cinematográfico e alguns complementos óticos, utilizados em trabalhos científicos e educativos do Instituto Oswaldo Cruz, como fotomicrografia e projeções microscópicas. O uso desses equipamentos era associado a instrumentos óticos como microscópios, polarizadores e espectroscópios. Créditos: [J.Pinto / Departamento de Arquivo e Documentação - COC/Fiocruz

 

Durante as primeiras décadas do século XX, milhares de imagens representando diversas etapas das pesquisas e demais atividades da instituição foram produzidas pelos fotógrafos do Instituto. Os artigos publicados nas revistas médicas e cientificas do período, notadamente aqueles publicados nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, apresentavam fotografias de estudos de zoologia médica, bacteriologia, observações histológicas e anatomia patológica, estudos experimentais ou clínicos sobre doenças ou ainda centenas de imagens de campos, planaltos, caatingas, planícies inundadas de rios do Norte e Nordeste, exemplares da fauna e flora. Registravam também comunidades rurais, incluindo seu modo de vida e condições de trabalho, em imagens produzidas ao longo de caminhos percorridos por expedições médico-cientificas. 

Outra importante parcela desse diversificado acervo fotográfico é composta por registros do cotidiano da ciência e da medicina, tais como cursos e encontros médicos, instalações de laboratórios, enfermarias, oficinas e salas de preparação de medicamentos e imunobiológicos, cocheiras e viveiros para cobaias, além de retratos de cientistas, grupos de alunos e personalidades de destaque em visitas à instituição. 

 

Os negativos de vidro 

Em grande parte, essas fotografias foram obtidas utilizando placas de negativos de vidro. Dois tipos de negativos em placas de vidro foram utilizados no passado: a placa úmida de colódio e a placa seca de gelatina de sais de prata. 

 Os negativos de placa úmida foram usados ​​entre 1850 e 1880. O fotógrafo, no entanto, trabalhava contra o relógio, pois o processo da placa úmida, sua exposição e revelação, precisava acontecer antes que a emulsão de colódio secasse. 

 Por sua vez, os negativos de placa seca, revestidos com gelatina de sais de prata, eram utilizáveis ​​quando secos, sendo facilmente transportados e exigindo menos exposição à luz do que as placas úmidas. Os negativos de placa seca foram o primeiro suporte fotográfico durável e economicamente bem-sucedido. Seu uso se deu entre as décadas de 1880 e 1920. 

 

Máquina para espalhamento da solução de sais de prata sobre placas de vidro, etapa da preparação de negativos fotográficos. Créditos: Albert Londe, La photographie moderne, Paris, 1888

 

O uso do vidro como base para a aplicação das soluções fotossensíveis permitia a produção de negativos mais nítidos e estáveis. As etapas do processo de fabricação dos negativos fotográficos sobre placas de vidro seguiam em ordem: preparação da solução sensível à luz; aplicação de uma camada uniforme da solução sobre uma das faces das placas de vidro; secagem das placas de vidro em ambiente apropriado; corte das placas secas em diferentes tamanhos, de acordo com os formatos das câmeras fotográficas da época; acondicionamento em papel acartonado; etiquetagem e distribuição para comercialização e uso.  

O porta-placas de negativos de vidro era uma caixa de madeira que mantinha o negativo protegido da incidência indesejável de luz, o que inviabilizaria seu uso. Uma vez inserido no interior da câmera, um anteparo escuro existente em seu interior era retirado para que a face do vidro com a solução foto-sensivel ficasse livre, dando início ao tempo de exposição à luz e à captura da imagem enquadrada. Em seguida, após o tapamento da objetiva, o anteparo era recolocado no porta-placas, o que permitia sua remoção segura do interior da câmera. 

Os modelos mais comuns de porta-placas eram feitos em madeira e eram abertos como um livro, possuindo uma dobradiça e uma divisória interna metálica. A partir de 1900, as caixas de madeira passaram a utilizar dois anteparos removíveis, além da divisória metálica e clipes para estabilização das placas. Este padrão foi largamente adotado até sua substituição por negativos flexíveis. 

 

Informações técnicas do objeto: 

Materiais: madeira, metal 
Dimensões: 22,7 x 16,3 x 2 cm 
Fabricante: não identificado 
Origem: não identificada 
Data: [1920] 
Procedência: Instituto Oswaldo Cruz 

 

Fontes: 
Claude Bernard - Introduction a l’Étude de la Medecine Experimentale. Paris,J.B.Bailliere et Fils, 1865. Disponível em: https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k3812d/f3.item.texteImage 

Albert Londe, La photographie moderne, Paris, G.Masson,1888 

Egídio Salles Guerra. Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, Editora Vecchi,1940 

Michael R. Peres (editor). Focal Encyclopedia of Photography. Digital Imaging, Theory and Applications, History, and Science. Elsevier, 2007 

Oregon State University Libraries. Early photographic formats and process in the special Collections and Archives Research Center. https://guides.library.oregonstate.edu/earlyphotoformats/glassplatenegatives 

 

Créditos: 
Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a coordenação de Inês Santos Nogueira e Pedro Paulo Soares 
Serviço de Museologia - Museu da Vida Fiocruz 

 

Publicado em 30 de janeiro de 2023.

 

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