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Por Leonardo Minardi

Nesta quarta-feira (12), o XVIII Congresso RedPOP reuniu convidados e congressistas por meio de debates sobre a popularização e o futuro da ciência. Ao todo, foram dois painéis e duas mesas convidadas que ocorreram no Museu da Vida Fiocruz e no auditório de Bio-Manguinhos, na Fiocruz. A programação também incluiu apresentações de trabalhos científicos, bem como a troca de experiências na modalidade Feira de Ideias. No fim do dia, a Assembleia RedPOP fechou a noite e anunciou o próximo país que receberá o Congresso de 2025.

A feira de ideias aconteceu na Tenda da Ciência Virginia Schall. Crédito: Rogério Villar

A democratização da ciência

O dia começou com o painel “Diálogo e Cidadania”, que aconteceu às 9h no auditório de Bio-Manguinhos e reuniu Anna Berti Suman, Mayara Floss, Alan Alves Brito e Katemari Rosa. O bate-papo foi mediado por Diego Bevilaqua, vice-diretor de Patrimônio Cultural e Divulgação Científica da Casa de Oswaldo Cruz e coordenador-geral da comissão organizadora da RedPOP.

Diego Bevilaqua foi o mediador do Painel Diálogo e Cidadania. Crédito: Rogério Villar

“Sabemos que os modelos tradicionais de divulgação científica acabam sendo bastante elitistas, concentrando o capital da ciência na mão de poucos e impossibilitando a democratização desse conhecimento. O debate de hoje serve para promover a inclusão  de diferentes vozes e entender a ciência como promotora da cidadania", pontuou o mediador.

Crédito: Rogério Villar

Em relação aos convidados, a advogada ambientalista Anna Berti Surman abriu as apresentações falando sobre seu trabalho, “Sensing for Justice”. Ela explicou a importância da justiça socioambiental e climática, e como o acesso ao conhecimento é importante ao pensarmos em uma justiça ambiental. “Não é apenas ativismo, mas um serviço público”, disse, fazendo referência às diversas fontes de informação (institucionais, acadêmicas e artísticas).

Acompanhada pela ilustradora Bela Pinheiro, que ditava as falas por meio de representações imagéticas, a italiana citou o caso Formosa, que ocorreu no Vietnã, quando uma simples pescadora denunciou uma grande corporação pela morte de peixes na região. “Isso gerou um dano ambiental não apenas para a população, mas para o planeta”, completou.

Alan Alves Brito discute como racializar os processos cientpificos. Crédito: Rogério Villar


Quem também trouxe reflexões importantes foi o pesquisador baiano Alan Alves Brito, que discorreu sobre as perspectivas decoloniais da divulgação científica: “Precisamos racializar os processos científicos, entender que as ciências são humanas e questionar sua cidadania, falar sobre uma ciência mais identitária e sobre o racismo científico, que coloca os negros em uma posição subalterna dentro do ramo”, explicou.

Painel sobre História da Divulgação Científica na América Latine reuniu pesquisadoras de vários países. Crédito: Rogério Villar

No mesmo horário, no Museu da Vida Fiocruz, os congressistas puderam assistir ao painel “História da divulgação científica da América Latina", que reuniu Luisa Massarani, Carina Cortassa, Elaine Reynoso e Sandra Daza-Caicedo em um debate ministrado por Maria de Lourdes Patiño-Barba, atual diretora executiva da RedPOP.

Coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), Massarani falou sobre como a história pode nos preparar para o futuro. “Entender a história da divulgação científica nos mostra como vão mudando os atores sociais, motivações, concepções e práticas. Essas questões iluminam o presente e nos preparam para uma divulgação mais inclusiva no futuro”, afirmou.

Sobre a receita para um futuro mais democrático no âmbito científico, ela realçou a importância do diálogo: “Não tem uma resposta única ou fórmula mágica. Acho que primeiro devemos escutar e entender os diferentes públicos, porque muitas vezes fazemos uma divulgação pensando no ponto de vista da comunidade científica. Outro aspecto é a questão do diálogo: precisamos não apenas passar a informação para os públicos, mas manter conversas sobre ciências”.

Crédito: Rogério Villar

Feira de Ideias uniu inclusão e acessibilidade

Na Tenda da Ciência, diversos congressistas apresentaram seus projetos de inclusão e acessibilidade na Feira das Ideias.  Apresentado pela museóloga Denise Studart, pesquisadora do Museu da Vida Fiocruz, a iniciativa uniu trabalhos diferenciados que promoveram saúde, educação, ciência e aprendizado.

A artista plástica e educadora Maria de Penha Souza trouxe um pouco da história de “Deb - a menina docinha”, projeto criado para auxiliar crianças diagnosticadas com Diabetes Mellitus tipo 1. Além de um livro ilustrado, ela desenvolveu uma brinquedoteca na Policlínica Universitária Piquet Carneiro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “É preciso unir arte, cultura, educação e ciência”, disse.

Já Rogério Fernandes, designer do Museu da Vida Fiocruz, trouxe o projeto “Design para acessibilidade”, que levou uma maquete tátil do Castelo Mourisco para o público cego e com baixa visão conferir os detalhes do edifício. Feita com impressão 3D, a estrutura possui paredes e torres removíveis e bonecos de figura humana em escala, sendo ideal para crianças e pessoas com deficiência visual. Para o futuro, a ideia é reproduzir o espaço em material colorido e redimensionar detalhes arquitetônicos.

Diversidade de saberes e futuros desejáveis

Durante a tarde, as mesas convidadas reuniram autoridades diversas, que compartilharam vivências únicas e reflexões sobre ativismo e futuro. O auditório do Museu da Vida Fiocruz recebeu o painel “Cultura, ativismo e popularização de saberes: desafios na construção de novas narrativas”, mediado pela assistente social Roseli Rocha.

Mesa convidada sobre Ativismo, cultura e popularização de saberes lotou o auditório do Museu da Vida Fiocruz. Crédito: Rogério Villar

O primeiro a discursar foi Bruno Ramos, professor de Libras da UFF, mestre em comunicação e expressão, ator e pessoa surda. Ele falou sobre a importância da representatividade e dos desafios da comunidade na qual se insere. “É importante que tenhamos estratégias enquanto sociedade para romper barreiras e oferecer opções de acessibilidade. É preciso conhecer a história e as narrativas da cultura surda, valorizar nossos corpos e preservar nossa identidade e nossa língua”, defendeu.

Em seguida foi a vez de Diádiney Helena de Almeida, mestre em história e doutora em direitos humanos, saúde global e políticas públicas. Indígena com ancestralidade do povo pataxó, sua fala foi sobre sonhar, existir e dialogar. “Fazer conhecer vozes e memórias de homens e mulheres silenciados pela história. Pensar numa ciência com aroma de 305 povos indígenas, que cantam, dançam e se expressam por meio de mais de 200 línguas maternas”, ressaltou.

Além deles, a mesa também contou com Leticia Carolina Nascimento, mulher travesti, negra e professora de pedagogia da Universidade Federal do Piauí. “Somos uma das vozes mais invisibilizadas dentro da produção epistemológica. De 424 mil estudantes no ensino superior, 0,2% se declaram trans, sendo que 90% das pessoas trans e travestis se prostituem. Esses dados são da Andifes de 2019 e da Antra de 2021. Não podemos mais ser meras informantes para pesquisadores; devemos construir conhecimento", situou a pesquisadora. 

A quarta e última convidada foi a pesquisadora e empreendedora social Silvana Bahia, que falou sobre a inserção de jovens e mulheres negras nas áreas tecnológicas da ciência. “A pergunta que me faço na minha pesquisa é o que muda quando outras pessoas - que estão fora dos grupos majoritariamente privilegiados pelos padrões científicos - podem pensar na produção tecnológica. Deve partir de nós esse deslocamento de não apenas consumir, mas pensar a produção da ciência como um instrumento de empoderamento e proposição de novas soluções”, concluiu. 

Ao lado, no auditório Bio-Manguinhos, a mesa “Futuros desejáveis” recebeu o coordenador acadêmico da Unesco Uruguai, Luis Carrizo, a doutora em educação e especialista em jornalismo científico Suzana Dias, e o chefe do departamento de Ecologia da UFRJ e professor titular da Cátedra Unesco, Fabio Scarano, em bate-papo mediado por André Felipe Cândido da Silva, pesquisador da Casa Oswaldo Cruz e editor científico da revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos.

Em uma fala otimista, Scarano mencionou os próximos passos da divulgação científica: “Nós temos muita dificuldade em imaginar futuros diferentes do presente. De certa forma, o presente coloniza o futuro”, explicou, trazendo detalhes do processo de aprendizado das Cátedras Unesco. “Pesquisamos de três tipos de futuro: desejados, prováveis e alternativos. Depois, voltamos ao presente para refletir sobre quais perguntas surgem, em um processo chamado de alfabetização do futuro”, finalizou. 

Equipe RedPOP se prepara para a próxima edição, dessa vez, no México. Crédito: Rogério Villar

Próxima parada: México!
Como em todo congresso, a Assembleia RedPOP na quarta (12) à noite decidiu, entre várias pautas, o próximo local a sediar o encontro bianual. A cidade de Puebla, no México, foi a eleita para o congresso daqui a dois anos. Além disso, a reunião elegeu o próximo comitê diretor da RedPOP. Os eleitos foram: Miguel garcía Guerrero (Museo Ciencias - UAZ) como diretor executivo; María Cristina Díaz Velázquez (Maloka) como coordenadora do eixo Andes; Luís Henrique de Amorim (Museu da Vida Fiocruz) como coordenador do eixo Sul; Claudia Hernández García (Universum) como coordenadora do eixo Norte; e Fiorella Silveira Segui (Espacio Ciencia) como tesoureira.

Publicado em 13 de julho de 2023

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