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Créditos: Bruno Veiga

Quem já passou pela experiência de precisar ir ao hospital para fechar uma ferida, os famosos pontos de sutura, já conhece um pouco sobre o Objeto em Foco desse mês...!

Os fios de sutura são utensílios muito comuns nas emergências e amplamente usados nas mais diversas cirurgias para estancar o sangue, além de fechar feridas e incisões.

Hoje parece ser algo muito simples por estar presente em praticamente todos os centros cirúrgicos. Mas estes materiais passaram por um longo processo de aprimoramento. Vamos descobrir?

 

Diferentes tipos de fios de sutura

Existem vários tipos de fios de sutura. Eles são utilizados de acordo com a necessidade do corte ou ferimento. O uso de linhas e fibras naturais para contenção de cortes no corpo remetem à Antiguidade, mas vamos falar aqui daqueles que, envolvidos em meio estéril, começaram a ser utilizados no final do século XIX.

Os mais antigos deles são as Crins de Florence. Apesar do nome, não se trata de crina de cavalo. São fios obtidos pelo estiramento do casulo do bicho-da-seda. A partir da antiga técnica chinesa de obtenção do fio de seda, foram desenvolvidos os primeiros fios usados como cordas para instrumentos musicais, ponta de linha de pesca na qual se fixa o anzol e, por fim, o fio para suturas.

 

Crins de Florence. Acervo: Museu da Vida Fiocruz. Foto: Flavia Braga

Os fios de Florence são utilizados em feridas que requerem drenagem. São frequentemente usados em feridas com deslocamento das partes moles, como couro cabeludo, por exemplo. A tração provocada pelo fio permite o fim do sangramento e auxilia o processo de cicatrização.

O Catgut (contração das palavras cat e gut, gato e tripa, no idioma inglês) é um fio de origem animal, com grande capacidade de elasticidade. É feito com uma parte do intestino de animais. Apesar do nome, não são feitos com tecidos de felinos. Normalmente, são utilizados bovinos, suínos, caprinos ou ovinos para obtenção do fio. As fibras de catgut são ideais para suturas internas. Elas não precisam ser removidas pois são absorvidas pelo corpo quando a cicatrização já está completa.

 

Joseph Lister introduziu a sutura asséptica (fios de seda embebida em ácido carbólico) em 1860, seguido pelo

Catgut (preparado a partir de intestino de ovelha e tratado com 5% de ácido crômico) anos depois. Acervo:

Museu da Vida Fiocruz. Foto: Flávia Braga.

 

Processo de aprimoramento

Os fios embebidos em meio estéril - álcool, fenol, ácido carbólico – e vedados em ampolas de vidro começaram a ser utilizados no século XIX. Foram usados primeiro por dentistas, depois, por cirurgiões ingleses, alemães e franceses.

A partir das descobertas de Louis Pasteur (1822-1895) e Joseph Lister (1827-1912) sobre a teoria dos microrganismos causadores de doenças, os fios de sutura passaram a ser assépticos e ocupar um lugar importante em cirurgias.

 

Catgut em óleo carbólico preparado por Lister. Foto: Wellcome Collection.

 

A primeira experiência de assepsia dos fios de sutura, como material cirúrgico específico, ocorreu em 1860. O mercado passou a produzir Catguts com tratamento de esterilização. Antes de serem usados, precisavam ficar imersos por algumas horas em ácido carbólico.

 

Suturas estéreis comercializadas no início do século XX. Foto: Catálogo Maison Mathieu - Paris e Lyon, 1905,

p. 404.

As suturas estéreis passaram a ser vendidas em grande quantidade no mercado, por diversos produtores, até as primeiras décadas do século XX, quando passou a ser comercializado em escala industrial. Em 1928, a indústria Johnson & Johnson desenvolveu uma linha especial de Catgut com o nome ETHICON. Este produto fez tanto sucesso que se transformou em uma subsidiária da empresa, com o nome de ETHICON Suture Laboratories.

Apesar do sucesso, era um produto que apresentava problemas sérios, que o fizeram tornar-se insatisfatório com o passar do tempo. Descolamento das suturas, infecções de feridas e contaminação de ovinos e bovinos eram complicações comuns que levaram à interrupção de sua produção. As ampolas de sutura em meio estéril foram gradualmente substituídas a partir da década de 1950 por fios sintéticos.

 

Informações técnicas do objeto:

Materiais: Tecido animal / vidro / álcool

Fabricante: Ethicon

Origem: Estados Unidos

Data: [1920-1950]

Procedência: Dr. Sylvio Sertã

 

Fontes:

DILLEMANN, Georges. La fin d'une ligature chirurgicale, le crin de Florence. In: Revue d'histoire de la pharmacie, 72ᵉ année, n°262, 1984. pp. 275-276. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/pharm_0035-2349_1984_num_72_262_2466

MAISON MATHIEU. Arsenal chirurgical, Orthopédie, prothèse. Corbeil: Creté, 1905. Disponível em: https://www.biusante.parisdescartes.fr/histmed/medica/cote?extaphpin016

MUFFY, Tyler M.; TIZZANO, Anthony P.; WALTERS, Mark D. The history and evolution of sutures in pelvic surgery. Journal of the Royal Society of Medicine, mar. 2011.

 

Créditos:

Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a coordenação de Inês Santos Nogueira e Pedro Paulo Soares

Serviço de Museologia - Museu da Vida Fiocruz

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