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Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida
Ano XXII - nº. 308. RJ, 9 de fevereiro de 2024.
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Não está fácil – nem nunca foi – para as cientistas mães. Apesar do reconhecimento cada vez maior das dificuldades por elas enfrentadas e das diversas iniciativas voltadas a driblá-las e a diminuir as inequidades com as quais se deparam ao longo de suas carreiras, não é incomum esbarrarmos ainda com ações que perpetuam toda a sorte de desrespeito e discriminação. No Ciência & Sociedade passado, mencionamos o caso do parecer ad hoc no âmbito do edital de bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq que dizia que a maternidade tinha atrapalhado o pós-doutoramento no exterior de uma das candidatas. Depois de declarações críticas do próprio CNPq ao parecer, e de medidas concretas alterando as regras do edital para contemplar melhor as pesquisadoras mães, eis que o presidente do CNPq, Ricardo Galvão, diz que o movimento Parent in Science “atrapalha muito”, fazendo confusão e desvalorizando suas reivindicações. A declaração inadequada – para dizer o mínimo – de Galvão não passou desapercebida; gerou grande repercussão. O timing realmente é dos piores. A bióloga Fernanda Staniscuaski, mãe de três filhos e criadora do Parent in Science, acaba de publicar na prestigiosa Nature um texto contando sua trajetória acadêmica e os obstáculos que a levaram a criar o movimento. Staniscuaski não deixou baixo. Juntou-se a colegas para escrever o texto provocativo na Folha de S.Paulo questionando: “A quem a maternidade atrapalha?” Atentos aos acontecimentos recentes e às vésperas da comemoração do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, reunimos neste número diversas notas abordando o tema, entre leituras, eventos e ações. Comemoramos também a iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Acre (Fapac), que lançou em janeiro o programa ‘Mães da Ciência’ para incentivar, com bolsas de pesquisas, mães solo, sem renda fixa, que queiram desenvolver estudos específicos ou criar um empreendimento. O programa deve iniciar ainda no primeiro semestre de 2024, com entre 1.000 e 1.500 bolsas. Que sirva de inspiração para outras iniciativas. Confira também nesta edição do boletim nota sobre relatório mostrando as novas facetas do ceticismo climático, texto de Ed Yong sobre como sua experiência cobrindo Covid longa o tornou um cientista melhor, e-book que aborda suicídio e autolesão entre jovens, seminário no Rio sobre desinformação, o novo Prêmio Jabuti Acadêmico, entre outras dicas de leituras, ações, eventos e oportunidades. Boa leitura!

 

Especial Desinformação

Negacionismo climático (infelizmente) em evolução – O mundo, que não é plano, gira e, ora vejam vocês, até os negacionistas “evoluem”. Brincadeiras à parte, um relatório publicado em janeiro pelo Center for Countering Digital Hate mostra uma mudança no tipo de vídeos publicados no Youtube sobre o aquecimento global. A análise de 4.458 horas de vídeos publicados de 2018 até 2023, realizada com ajuda de ferramentas de inteligência artificial, mostra que afirmações como “o tempo está frio” e “estamos entrando em uma nova era glacial” perderam espaço à medida que as temperaturas e as evidências do aquecimento global aumentaram e foram percebidas pelo público. O relatório aponta também que, de 2018 a 2023, as afirmações classificadas como “velho negacionismo”, negando as alterações climáticas antropogênicas, caíram de 65% para 30%. No entanto, o inverso aconteceu com as afirmações classificadas como “novo negacionismo”, defendendo que os impactos do aquecimento global são benéficos ou inofensivos, que as soluções climáticas não funcionarão ou que a ciência climática e o movimento climático não são confiáveis. A pesquisa mostra ainda que a tática parece estar dando certo (para os negacionistas e as plataformas): o Youtube ganha 13,4 milhões de dólares por ano com anúncios nos vídeos analisados. O documento recomenda que o Google atualize a sua política de conteúdo para incluir os novos tipos de negacionistas, que as plataformas desmonetizem e não amplifiquem esses conteúdos e que os defensores do clima usem o relatório para impulsionar ações contra o novo negacionismo. Justo, mas outras ações indicadas por diferentes estudos poderiam ser somadas, como a identificação de estratégias conjuntas do novo negacionismo climático e de possíveis financiadores, uma melhor formação cidadã e o fortalecimento da divulgação científica. O relatório, em inglês, está disponível aqui.

 

Leituras

“A quem a maternidade atrapalha?” – Já não bastassem os desafios que as cientistas mães enfrentam no ambiente acadêmico brasileiro, o CNPq vem dando uma mancada atrás da outra no que diz respeito à maternidade. A agência federal de fomento entrou na berlinda em dezembro, quando veio a público o parecer de um de seus revisores ad hoc, que afirmou que a gravidez da cientista avaliada havia atrapalhado sua carreira. O episódio ilustra a realidade de muitas mães cientistas no Brasil e no mundo, como afirma o texto “Academia needs radical change - mothers are ready to pave the way” (acesso em: https://shorturl.at/mAJMR), publicado em janeiro na Nature. Nele, a bióloga Fernanda Staniscuaski, mãe de três filhos, fala da sua própria trajetória acadêmica e dos obstáculos que a levaram a criar o movimento Parent in Science (PiS), que luta por mais equidade para mães na academia. Embora o PiS já tenha alcançado resultados concretos – inclusive em ações do próprio CNPq –, o coletivo sofreu um revés no final de janeiro, quando o presidente da agência, Ricardo Galvão, afirmou em um discurso que o movimento “Parent is Science atrapalhava muito”. Dessa vez, Staniscuaski publicou artigo – com as colegas Leticia de Oliveira (UFF) e Patrícia Valim (UFBA) no jornal Folha de S.Paulo – em que questiona “A quem a maternidade atrapalha?”. Texto disponível para assinantes aqui.

 

Lição de jornalismo científico – “Não somos atores neutros, informando sobre o mundo à distância; também criamos esse mundo através das nossas escolhas e devemos fazê-lo com propósito, cuidado e compaixão”. A provocação é de Ed Yong, experiente jornalista de ciência e ganhador do Prêmio Pulitzer para Reportagens Explicativas em 2021 por uma série de matérias sobre a pandemia de Covid-19. Em artigo de opinião publicado no New York Times, Yong conta como sua cobertura sobre Covid longa o tornou um melhor jornalista. Diante de um tema ainda desconhecido pela ciência e pouco valorizado pelos médicos, e tocado pela experiência de Covid longa de sua cunhada, o jornalista decidiu dar atenção e voz a quem mais entendia do assunto: os próprios pacientes que se encontravam nessa condição. Exercitando profunda sensibilidade e empatia, e flexibilizando seu padrão de apuração jornalística, ouviu dezenas de pacientes, buscando compreender as nuances dos sintomas e das dores por eles compartilhados. O resultado foi um enorme senso de representação e gratidão por parte da comunidade de pacientes convivendo com a versão longa da Covid-19. Estes passaram a usar suas reportagens para mostrar a amigos, familiares e médicos que o que sentiam não era um caso isolado nem inventado. No artigo, Yong desabafa sobre como esse retorno do seu trabalho lhe deu um senso de propósito como jornalista de ciência, mudando profundamente sua visão sobre o que o jornalismo é capaz de fazer. O texto completo, uma ótima e tocante lição de jornalismo científico, está disponível  aqui.


Ações

E-book discute suicídio e autolesão entre jovens – Dados do Ministério da Saúde do Brasil apontam “aumento de autolesões não suicidas, tentativas de suicídio e de suicídio entre adolescentes. Entre 2010 e 2019, as regiões Norte e Centro-Oeste atingiram as maiores taxas de mortalidade do país”. Esses e outros dados estão reunidos no e-book Comportamento Suicida e Autolesão na Infância e Adolescência, lançado pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz, com o apoio da Faperj e do CNPq. Com linguagem simples e clara, a publicação de seis capítulos aborda ainda aspectos conceituais, fatores que podem desencadear e proteger os problemas, bem como estratégias de prevenção e de atenção. Embora voltada para profissionais da saúde e da educação, demais envolvidos no cuidado e na atenção de crianças e adolescentes, como pais e grupos de apoio ao público infanto-juvenil, também podem aproveitar a leitura. Acesse o texto completo.

 

Nova série de TV apresenta mulheres cientistas – Em 4/2, estreou o programa “Ciência, substantivo feminino”, que mostra as contribuições fundamentais de mulheres brasileiras à ciência. A temporada conta com cinco episódios, de 26 minutos cada, exibidos aos domingos, às 23h, no canal GNT. Cada episódio conta a história de duas cientistas, uma com atuação no passado e outra no presente, cujos trabalhos se interligam. No primeiro, as protagonistas são Johanna Döbereiner (1924-2000) – que pesquisou bactérias fixadoras de nitrogênio para diminuir o uso de fertilizantes nas culturas de leguminosas – e uma de suas discípulas, Mariangela Hungria, que atualmente é uma das principais cientistas da área no Brasil e no mundo. O conteúdo também está disponível no Globoplay, aqui.

 

Eventos

Desinformação e divulgação científica – A Especialização e o Mestrado em divulgação científica da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), junto com o Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida Fiocruz, realizarão um evento de abertura dos dois cursos nos dias 11, 12 e 13 de março, com o tema “Desafios da desinformação e possibilidades para a divulgação científica”. A programação e demais informações estarão em breve nos sites do Museu da Vida e da COC.

Meninas e mulheres na ciência é tema de evento no RJ – A FAPERJ promove em 19/2, às 15h, na Academia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro, o evento “Meninas e Mulheres na Ciência: avanços e perspectivas”. Haverá mesa com autoridades locais, entrega do termo de outorga do edital “Jovem Cientista Mulher”, anúncio de relançamento do edital “Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação” e fala sobre o Prêmio Elisa Frota Pessoa. O evento é parte das comemorações do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11/2. Mais informações.

Evento on-line sobre divulgação ambiental recebe trabalhos – O evento Networking for Environmental Communication recebe trabalhos até 15/3. Troca de conhecimentos, perspectivas e estratégias que contribuam para a promoção de uma comunicação ambiental eficaz e ética são o foco da iniciativa. O evento, gratuito, acontece nos dias 2 e 3/5, 24h via Zoom. Confira a chamada.

 

Oportunidades

Formação em cienciarte – Estão abertas até 16/2 as inscrições para o curso de especialização lato sensu em Ciência, Arte e Cultura na Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O objetivo é qualificar profissionais de qualquer área que desejem trabalhar na interface 'ciênciarte', cultura e saúde. A carga horária é de 510 horas, sendo 360 horas equivalentes às disciplinas obrigatórias e 150 horas relacionadas ao Trabalho de Conclusão de Curso. Confira o edital completo.

Jabuti para academia – O Prêmio Jabuti, a mais famosa premiação literária do país, acaba de ganhar uma versão acadêmica, apoiada pela SBPC e ABC. Obras científicas, técnicas e profissionais, publicadas no Brasil, em português, em 2023, já podem ser inscritas na 1ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico. São duas grandes categorias, Ciência e Cultura e Prêmios Especiais, e ao todo 29 subcategorias. As inscrições encerram às 18h de 19/3. Confira o regulamento.


Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.


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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..        

     

* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.

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