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Por Inês Nogueira

 

Figura 1. Telefone do gabinete de Oswaldo Cruz. Foto: Bruno Veiga / Museu da Vida Fiocruz
Figura 1. Telefone do gabinete de Oswaldo Cruz. Foto: Bruno Veiga / Museu da Vida Fiocruz

 

Entre os diversos equipamentos que faziam parte das instalações do então Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos, lá no início do século 20, um em especial se destaca: o telefone instalado no gabinete de Oswaldo Cruz. 

Hoje, com os nossos celulares em mãos e mensagens chegando a todo instante, é difícil imaginar um tempo em que falar com alguém exigia paciência, fios, telefonistas e uma boa dose de formalidade. Naquele tempo, o telefone era uma novidade tecnológica que começava a transformar os modos de comunicação. 

À primeira vista, o telefone de ramais de Oswaldo Cruz era um aparelho simples, com estrutura de madeira, manivela lateral e fios aparentes. Mas esse telefone tinha algo que o tornava especial: era o único no Instituto com acesso direto aos ramais dos pesquisadores. Uma espécie de PABX – para troca automática de ramais privados - exclusivo para o diretor.

 

Equipar o Castelo com o que havia de mais moderno

O Castelo Mourisco, sede da Fiocruz, foi projetado para ser um centro de excelência científica. A escolha de sua arquitetura exótica, em estilo arabesco, contrastava com os laboratórios bem equipados e a infraestrutura moderna que ele abrigava. Para se transformar em referência e combater as epidemias urbanas, Oswaldo Cruz, inspirado no modelo do Instituto Pasteur, na França, sabia que era preciso investir em mais do que boas ideias: era necessário ter estrutura, equipamentos atualizados e uma rotina intensa de trabalho.

Figura 2. Com exceção do diretor que utilizada o telefone com ramais, todas as ligações precisavam passar por uma central telefônica. Este tipo de conexão ainda durou muito tempo, operando até a modernização do sistema telefônico no final dos anos 1960. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz
Figura 2. Com exceção do diretor que utilizada o telefone com ramais, todas as ligações precisavam passar por uma central telefônica. Este tipo de conexão ainda durou muito tempo, operando até a modernização do sistema telefônico no final dos anos 1960. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz

 

Desde a construção do prédio, iniciada em 1905, os laboratórios receberam equipamentos importados, o mobiliário foi projetado para atender às necessidades do trabalho técnico, e até o sistema de comunicação interna recebeu atenção especial. As linhas telefônicas internas, interligavam os diferentes andares e setores. Era um recurso inovador, principalmente considerando que, fora dali, o acesso ao telefone era bem restrito.

 

Telefone, um equipamento inovador

A invenção do telefone, em 1876, marcou uma revolução nas comunicações. Mas a popularização da tecnologia foi lenta. No Brasil, a primeira ligação telefônica foi feita em 1880, no Rio de Janeiro, conectando o Centro da cidade ao bairro de São Cristóvão. Mesmo assim, décadas depois, o aparelho continuava sendo artigo restrito apenas a instituições públicas, empresas e residências da elite. Grande parte delas dependia de uma central telefônica operada manualmente.

 

Figura 3. A central telefônica localizava-se no primeiro andar do Castelo Mourisco. Este equipamento também está preservado no Acervo do Museu da Vida Fiocruz. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz
Figura 3. A central telefônica localizava-se no primeiro andar do Castelo Mourisco. Este equipamento também está preservado no Acervo do Museu da Vida Fiocruz. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz

 

No Instituto Oswaldo Cruz, os telefones estavam presentes nos gabinetes dos pesquisadores, mas, para completar qualquer ligação interna, era necessário chamar a telefonista. A exceção era o gabinete de Oswaldo Cruz, que contava com dois aparelhos: um, igual aos demais, e outro exclusivo, capaz de acionar diretamente os ramais de seus colegas, como um PABX artesanal, que colocava o diretor em linha direta com quem ele precisasse chamar.

 

Figura 4. Catálogo da empresa alemã Siemens & Halke, responsável por fornecer grande parte dos equipamentos de telefonia, telegrafia e engenharia elétrica nas instalações do Instituto Oswaldo Cruz. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz
Figura 4. Catálogo da empresa alemã Siemens & Halke, responsável por fornecer grande parte dos equipamentos de telefonia, telegrafia e engenharia elétrica nas instalações do Instituto Oswaldo Cruz. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz

 

Esse sistema representava não só uma vantagem funcional, mas também uma estratégia de gestão. Em tempos em que “comunicação ágil” era sinônimo de mandar um bilhete correndo por um assistente, poder falar diretamente com os pesquisadores sem intermediários fazia diferença.

 

Oswaldo Cruz, um entusiasta da tecnologia 

Oswaldo Cruz era conhecido não apenas por seu trabalho à frente das campanhas sanitárias na cidade do Rio de Janeiro, mas também por seu interesse pelas inovações da tecnologia. Usava a fotografia como instrumento de registro pessoal e científico, era atento às novidades da microbiologia e fazia questão de manter o Instituto alinhado com os avanços tecnológicos da ciência.

 

Figura 5. Gabinete do Diretor localizado no segundo andar do Castelo Mourisco. Observa-se, atrás da grande mesa de reuniões, os equipamentos de telefonia e um dictafone, moderno aparelho da época, capaz de fazer gravações em cilindros de cera. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz
Figura 5. Gabinete do Diretor localizado no segundo andar do Castelo Mourisco. Observa-se, atrás da grande mesa de reuniões, os equipamentos de telefonia e um dictafone, moderno aparelho da época, capaz de fazer gravações em cilindros de cera. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz

 

Seu telefone exclusivo diz muito sobre ele. Mais do que uma excentricidade ou um capricho, esse aparelho reforça traços de sua personalidade profissional: praticidade e atenção à organização institucional. Ter controle sobre a comunicação interna era parte do esforço para tornar o Instituto uma instituição eficiente e bem conectada. Em um mundo sem e-mail, sem aplicativos de mensagens instantâneas e com muitos desafios sanitários batendo à porta, cada ligação fazia diferença.

 

Figura 6. Nesta imagem, observa-se de perto os aparelhos telefônicos sobre a mesa de trabalho de Oswaldo Cruz. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz
Figura 6. Nesta imagem, observa-se de perto os aparelhos telefônicos sobre a mesa de trabalho de Oswaldo Cruz. Imagem: Departamento de Arquivo e Documentação – Casa de Oswaldo Cruz /Fiocruz

 

Informações técnicas do objeto:

Objeto: Aparelho telefônico
Fabricante: Siemens & Halske 
Origem: Alemanha
Época: [1910]
Material: madeira, metal, borracha, vidro
Dimensões: 26 x 44 x 27 cm
Coleção: Oswaldo Cruz
Procedência: Museu Oswaldo Cruz 

 

Acesse na Base Museu:
Aparelho Telefônico com Ramais 

 

Fontes:

BENCHIMOL, Jaime L. Manguinhos do Sonho à Vida: a ciência na Belle Époque. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, 1990.  

BRITTO, Nara. Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995. 

CASA DE OSWALDO CRUZ. Departamento de Arquivo e Documentação. Fundo Oswaldo Cruz. Disponível em: https://basearch.coc.fiocruz.br/index.php/oswaldo-cruz 

GUERRA, E. Sales. Osvaldo Cruz. Rio de Janeiro: Vechi, 1940.


Créditos:

NOGUEIRA, Inês Santos. Objeto em Foco: Telefone de ramais de Oswaldo Cruz. In: Museu da Vida Fiocruz.

Objeto em Foco é um produto de divulgação do acervo museológico sob a coordenação de Inês Santos Nogueira, Serviço de Museologia - Museu da Vida Fiocruz.

 

Publicado em 05 de agosto de 2025.

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