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Por Renata Fontanetto, Julianne Gouveia, Déborah Araujo, Tatiane Lima, Douglas Mota e Renata Bohrer

 

 

 

Fungos, vírus, microrganismos e doenças. Palavras que muitos estudantes e professores escutam no dia a dia das escolas brasileiras, mas que às vezes ficam só nos livros. Na 20ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da Fiocruz, os visitantes descobrem de forma lúdica o que diversos pesquisadores investigam dentro de seus laboratórios. Um desses cientistas é o biólogo Antonio Gonçalves, do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Ele aproveitou a SNCT para divulgar as doenças negligenciadas do país, principalmente as que são transmitidas pela água e por alimentos contaminados.

Uma das apostas da atividade “Doenças negligenciadas e bactérias de importância em saúde” é trabalhar a imagem de doenças e seus respectivos parasitas, como, por exemplo, num jogo de memória para crianças. “Detalhamos vários microrganismos, como o verme Ascaris lumbricoides, a famosa lombriga. Informamos também a forma de transmissão e os sintomas das doenças nos seres humanos. É ótimo conversar com crianças porque elas são excelentes multiplicadoras do conhecimento”, avalia.

Pertinho dali, o público também tinha à disposição uma série de modelos tridimensionais de alimentos com fungos. Fica a pergunta: se uma laranja mofa, você joga fora ou come? A dica é não comer, segundo a médica veterinária Simone Quinelato, coordenadora adjunta da Coleção de Cultura de Fungos Filamentosos do IOC, conjunto biológico que completou 101 anos em 2023 – um dos mais históricos da Fiocruz. “Ao contrário de bactérias e vírus, fungos são menos conhecidos. Costumamos achar que fungo só causa doença ou mofa parede. Microrganismo é biodiversidade e pode ajudar a produzir medicamento, biodiesel, alimentos, além de equilibrar diversos ecossistemas”, afirma Quinelato. A coleção guarda mais de 1,2 mil amostras de fungos diferentes, dentre elas uma cultura original do experimento do médico Alexander Fleming que deu origem à penicilina em 1928.

Se os fungos oferecem informação valiosa para a ciência, os cocôs também. As fezes podem dar pistas sobre quais animais estão presentes numa área florestal, por exemplo. Quem explica é a assistente de curadoria Renata Maia, da Coleção Paleoparasitológica e de Fezes Recentes de Animais da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp): “Temos fezes de animais que ainda são encontrados na natureza e aquelas fossilizadas, de bichos já extintos. O cocô é um material rico, porque traz evidência sobre a presença de espécies e a saúde ambiental. Em microscópio, é possível visualizar os microrganismos que podem estar causando doenças nesses animais”, explica.

O público infantil da SNCT também pôde montar um vírus com bolinhas de isopor e outros materiais acessíveis – como palito e massinha de modelar – na atividade “PreventHIVo: um jogo sobre HIV/Aids”, do IOC. Natália de Sá, pós-doutoranda do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular, foi uma das responsáveis pela atração. “Monte seu vírus faz parte desta ação e é voltada para crianças, que acabam levando o pequeno vírus para casa. Quem já tem mais idade pode jogar o PreventHIVo, pelo qual o visitante interage para testar os próprios conhecimentos sobre os meios de transmissão do vírus HIV”, detalha.

Para professores e adultos, diversos materiais educativos e de divulgação científica estavam sendo distribuídos na Feira de ciência e tecnologia, como a HQ “Avisa Território: vestígios da vigilância em saúde”. Produzida por pesquisadores da Ensp, a história em quadrinhos conta em linguagem lúdica o papel de profissionais do SUS que atuam na linha de frente do cuidado de milhares de cidadãos e de seus territórios – os Agentes de Vigilância em Saúde. A HQ faz parte de um conjunto de materiais disponibilizados pela Rede do Programa de Políticas Públicas, Modelos de Atenção e Gestão do Sistema e Serviços de Saúde (Rede PMA), da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz. “Há materiais divulgando pesquisas de diversas unidades da Fiocruz, e o público está interessado. Há professoras que dizem que irão trabalhar os conteúdos em sala de aula”, relata Lais Jannuzzi, analista de disseminação científica da Rede.

Quem entra na Feira de ciência ainda se depara com um MiniLab desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) para o projeto Reconquista das Altas Coberturas Vacinais. No espaço, é possível fazer sessão de fotos com o Zé Gotinha, assistir a uma animação sobre vacinas com o Dr. Akira Homma e acompanhar a exposição virtual “Vacina! Ciência protegendo vidas”. Professores podem agendar um horário com a equipe do projeto e exibir a atividade ao vivo para a escola. “O legal da exposição é que são diversas linguagens falando de vacinação”, conta Isabella Santos, divulgadora científica do projeto.

Já a atividade “Os Vírus: Dengue, Zika, Febre Amarela e Chikungunya”, desenvolvida pelo Laboratório de Morfologia e Morfogênese Viral do (IOC), também menciona em diversos momentos a vacinação, principalmente para as doenças transmitidas por mosquitos, como a febre amarela. Primeiro os alunos observam uma sequência de imagens dos vírus, depois participam de um quiz e, em seguida, reproduzem a imagem do vírus em massinha. Na sequência, ainda participam de um jogo de perguntas e respostas sobre os sintomas da dengue, chikungunya e Zika. “Uma simples tampinha de garrafa é suficiente para acumular água parada e virar um criadouro de mosquito. Um único inseto pode contaminar até 300 pessoas. Por isso, conversar com a população é fundamental”, diz Derick Gomes, virologista e pesquisador do IOC.

Falando em vírus, a equipe de pesquisadores da Fiocruz na Antártica não encontrou o vírus da covid-19 na região, mas as pesquisas continuam porque os animais que habitam o local transitam por outras regiões, podendo trazer o vírus em seus corpos. No papo com o time, é possível descobrir que as viagens costumam ser realizadas no verão por conta de as temperaturas serem “altas”. Se engana que acha que são 32 graus positivos como em vários estados brasileiros: por lá, o verão marca -40ºC, e o inverno, -80ºC. “O treinamento é feito todo ano entre julho e agosto. Durante uma semana, os pesquisadores participam do Treinamento Pré-Antártico em que assistem palestras, exercem atividades físicas de condicionamento e experimentam vivências em simulação”, afirma Maitê Magalhães, pós-doutoranda em bioinformática do IOC.

 

Oficinas e bate-papos para aguçar a curiosidade do público

Uma ação na Tenda da Ciência do Museu da Vida Fiocruz abriu os trabalhos das oficinas no segundo dia de atividades da SNCT. Na atividade ‘Tudo o que você gostaria de saber sobre IST/Aids e tem vergonha de perguntar’, profissionais do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) realizaram uma dinâmica de grupo com cerca de 30 estudantes do ensino médio. Eles responderam a dúvidas dos jovens sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e HIV, além de distribuírem preservativos e desmentirem informações falsas de ampla circulação. “A pior coisa na sociedade é a falta de informação. Onde não há informação, a população cria”, aponta Nilo Fernandes, psicólogo do INI e um dos facilitadores da atividade.

Educadores e estudantes dos cursos de nutrição, biomedicina, enfermagem, pedagogia, educação física e fisioterapia do Centro Universitário IBMR ofereceram diferentes atividades durante a Semana. Na oficina ‘Rótulos: ler ou não ler?’, os visitantes puderam discutir a importância da leitura de rótulos de alimentos para promover uma alimentação menos nociva ao corpo. Em “Brincando com as mãos e as cores: oficina lúdica de diversidade e libras para crianças”, eles descobriram como expressar os nomes das cores na Língua Brasileira de Sinais de forma interativa. Uma espécie de quebra-cabeças e um quiz digital mobilizaram estudantes da Rede Municipal de Maricá na atividade ‘Cadê a cientista que estava aqui?’, que mostra o apagamento feminino ao longo da história da ciência. “A ideia é que eles percebam que conhecem mais cientistas homens do que mulheres”, explica Anna Lea Barreto, professora de biomedicina da instituição.

Se a ideia é falar sobre as mulheres nas ciências, vamos em frente! O nome Johanna Dobëireiner (1924-2000) pode não ser familiar para a maioria das pessoas, mas seus estudos pioneiros com fixação biológica do nitrogênio são essenciais para a agronomia. “A partir da pesquisa dela, você pode enriquecer de nitrogênio o solo de uma plantação sem a necessidade de usar, por exemplo, adubos inorgânicos ou mesmo adubos orgânicos fabricados industrialmente”, explica o pesquisador Diego Bevilaqua, vice-diretor de Patrimônio Cultural e Divulgação Científica da Casa de Oswaldo Cruz (COC) e coordenador adjunto da SNCT na Fiocruz.

A engenheira agrônoma foi tema da oficina “O Enigma de Johanna”, como apresenta Bianca Souza, aluna do curso de especialização de Divulgação e Popularização da Ciência da COC: “a gente montou uma atividade escape room, cujo objetivo era contar um pouco sobre a história e as pesquisas que foram desenvolvidas por Döbereiner, uma cientista tcheca naturalizada brasileira que contribuiu bastante para o desenvolvimento da agronomia no Brasil a partir de suas pesquisas na década de 1960”.

Devido aos diversos ataques que a ciência e os cientistas têm recebido nos últimos anos, principalmente durante a pandemia de covid-19, a programação contou com o bate-papo “Por que confiar nos especialistas? Ciência, sociedade e debate público”. De acordo com Thiago Lopes, pós-doutorando do Programa de pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da COC, a proposta da atividade foi “pensar as relações entre ciência e políticas públicas num momento particularmente crítico da conjuntura brasileira, em que a ciência se vê diante de grandes desafios, como responder a uma emergência sanitária”. Lopes também destaca a importância da participação social e do processo democrático na forma como a ciência vai também se construindo e estabelecendo a sua legitimidade junto a diferentes públicos.

 

Seropédica e São Gonçalo recebem atividades extramuros

O campus Seropédica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) recebeu duas ações territoriais nesta quarta-feira. O espetáculo teatral “O rapaz da Rabeca e a moça Rebeca” foi apresentado no jardim interno do Pavilhão Central (P1). Fruto de uma parceria com o INI, a peça discute a importância da prevenção contra ISTs.

No auditório Hilton Salles, também no P1, a mesa-redonda “A importância dos museus de ciências na melhoria da Educação Básica” trouxe a educação para discutir as ciências básicas, tema da SNCT deste ano. Paulo Henrique Colonese, físico e educador do Museu da Vida Fiocruz, destacou a importância da interação entre essas instituições e as escolas. “Pesquisas têm indicado que o museu tem um impacto muito profundo sobre as pessoas. Mas, muitas vezes, as crianças só vão ao museu uma vez na vida, com a escola”, contou, ressaltando as ações necessárias para mudar esse cenário e transformar esses espaços em parte da vida cultural das famílias.

Em outra atividade extramuros, o Ciência Móvel do Museu da Vida Fiocruz está no Sesc de São Gonçalo (RJ) com várias atrações educativas para todas as idades até o dia 20 de outubro.  Unanimidade na família Assis, a tartaruga gigante da exposição itinerante ‘Nas pegadas de Darwin’ foi só sucesso. “O que eu mais gostei daqui foi a tartaruga. Ela é grande e dá pra montar”, contam os irmãos Ester e Rafael, de 9 e 6 anos, respectivamente. Além da réplica do animal, a mãe Maria das Vitórias destaca os modelos anatômicos do corpo humano e a atividade sobre o mosquito da dengue: “Trouxe meus filhos para ver o museu e estamos felizes”. A programação inteiramente gratuita do museu itinerante pode ser vista das 10 às 16h.

 

Publicado em 19 de outubro de 2023. 

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