Informativo do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida Fiocruz
Ano XXII - nº. 326. RJ, 11 de agosto de 2025.
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Ele vetou! O presidente Lula vetou 63 dos quase 400 artigos do projeto de lei que regulamenta o licenciamento ambiental no Brasil, aprovado em julho pelo Congresso. Entre os itens vetados estão os mais polêmicos e criticados por cientistas e ambientalistas, como os que facilitavam o desmatamento na Mata Atlântica e os que reduziam exigências para empreendimentos considerados de médio porte. Os vetos foram considerados estratégicos pela ala ambiental do governo e vistos como uma resposta vitoriosa à mobilização da sociedade civil organizada. No entanto, ainda precisam ser validados (ou não) pelo Parlamento. Caso sejam derrubados, o texto aprovado em julho passa a entrar em vigor. A ver... A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), uma das entidades que se manifestou publicamente contra o chamado PL da Devastação, lançou a pesquisa nacional “Vozes, Territórios e o Futuro da Ciência Brasileira”. O objetivo é conhecer melhor a opinião dos brasileiros sobre suas atividades e sobre a ciência nacional. Veja como participar na seção Ações do Ciência & Sociedade de agosto. O boletim deste mês traz também notas sobre a AuthentiSci, nova plataforma online que, com o auxílio de cientistas voluntários, ajuda a checar a veracidade e a qualidade de notícias sobre ciências; resultados da nova pesquisa do Instituto Reuters sobre o consumo de informações no mundo; o número especial da PNAS sobre divulgação científica; entre outras dicas de leituras, eventos e oportunidades no campo da divulgação científica. Boa leitura!
Especial Desinformação
Quem verifica se as notícias de ciência estão corretas? – Antes mesmo de a desinformação se tornar um fenômeno amplamente debatido, o jornalismo científico já era alvo de questionamentos. Afinal, como pessoas sem treinamento científico podem avaliar se uma reportagem de ciência contém informações precisas? Mas foi a partir da pandemia de Covid-19 – e a potencialização da desinformação provocada pela crise sanitária – que um grupo de cientistas resolveu criar a plataforma online AuthentiSci. Nela, o usuário pode colar o link de uma reportagem científica e receber uma avaliação sobre seus níveis de clareza, evidências (o quão fortemente o artigo é respaldado por pesquisas científicas) e equilíbrio (se diferentes pontos de vista são representados de forma justa). Quem analisa é um cientista voluntário, especializado na área abordada. A plataforma, sem fins lucrativos, gera, então, uma nota (de zero a dez) e pode fornecer ainda um comentário do cientista explicando a nota atribuída ou oferecendo mais contexto sobre o tema. Em entrevista ao site alemão de divulgação científica WissenschaftsKommunikation.de, Shama Sograte, uma das fundadoras da AuthentiSci, diz que o objetivo da plataforma não é julgar jornalistas, mas oferecer aos cientistas uma maneira de se comunicar diretamente com o público, sinalizando informações imprecisas, mas também destacando reportagens de qualidade. Ainda em fase de consolidação, a AuthentiSci pretende funcionar seguindo a lógica colaborativa da Wikipedia. Acesse aqui a plataforma. Leia a entrevista, em inglês.
Leituras
Quem lê tanta notícia? – Num momento de intensos conflitos bélicos, profunda incerteza política e grave crise climática, espera-se que a mídia jornalística tradicional – TV, jornais, revistas e sites de notícias – ganhe relevância. No entanto, novo relatório da Reuters sobre o consumo de informação no mundo mostra o oposto: na maioria dos países, a mídia jornalística tradicional está com dificuldades para se conectar com o público e angariar assinantes. O documento traz dados que revelam uma mudança acelerada em direção ao consumo de informações por meio de mídias sociais, plataformas de vídeo e podcasts, geridos por personalidades e influenciadores digitais. Estes, sim, têm desempenhado papel significativo na formação de opinião e no debate público, mesmo que sejam considerados as maiores ameaças em termos de informações falsas ou enganosas. Para piorar, mais da metade dos entrevistados (58%) demonstrou preocupação em relação à sua capacidade de distinguir o que é verdadeiro do que é falso em notícias online. O relatório mostra ainda que chatbots e interfaces de IA estão emergindo como uma fonte de notícias, mesmo que os números ainda sejam relativamente baixos. De modo geral, os participantes na maioria dos países permanecem céticos quanto ao uso de IA nas notícias. Ufa! Acesse aqui o relatório.
Divulgação da ciência em foco na PNAS - Um dos principais periódicos científicos do mundo, a PNAS dedicou uma edição especialmente ao tema da divulgação científica. O texto de apresentação, somando-se ao fato da edição especial por si só, enaltece e fortalece muito o papel da divulgação científica no mundo atual. O início já dá pistas, dizendo que “a ciência não deve ditar unilateralmente as decisões individuais ou as políticas públicas. No entanto, ela fornece uma fonte vital de informação para sociedades e indivíduos, que muitas vezes pode melhorar os resultados e o bem-estar”. Mas o texto vai bem além, ao defender que é preciso uma divulgação científica com uma abordagem mais participativa, assim como um olhar sobre os desafios contemporâneos relativos à incerteza científica, à ciência politizada, à neutralidade artificial, entre outras questões. O especial “Reimagining Science Communication in the COVID Era and Beyond” traz, entre outros, artigos sobre as mudanças no ecossistema informacional e sua relação com a divulgação científica, a necessidade do engajamento comunitário para o fortalecimento das relações entre ciência e sociedade, a importância da humildade intelectual dos cientistas para uma divulgação eficaz num mundo com graves divisões ideológicas e identitárias. Acesse aqui a edição especial, gratuitamente e em inglês.
O potencial do jogo educativo para o ensino em saúde – Estudantes do ensino fundamental e médio de escolas dos Estados Unidos (EUA) demonstraram maior entendimento da ciência por trás do desenvolvimento de vacinas, além de maior valorização dos testes clínicos em humanos, após participarem de uma partida do jogo de tabuleiro N.O.V.E.L. – Newly Observed Variant of Extreme Lethality. Os dados são do estudo “Adolescents’ knowledge of and confidence in vaccines improves with board game play”, publicado em julho na revista Discover Education. N.O.V.E.L. é um jogo cooperativo, desenvolvido pelos autores da pesquisa, no qual os participantes assumem o papel de cientistas encarregados de conter a propagação de uma nova doença infecciosa. Para investigar a influência do jogo na compreensão dos jogadores sobre as vacinas, os pesquisadores analisaram questionários aplicados antes e depois das partidas e a experiência de um professor da zona rural e seus alunos. O estudo envolveu sete docentes e 304 estudantes de seis comunidades em quatro estados das regiões Centro-Oeste e Leste dos EUA. Após jogarem N.O.V.E.L., os estudantes também reconheceram a importância da criatividade, boa comunicação e cooperação para o cientista. Para os autores, os resultados ilustram o potencial dos jogos educativos como ferramenta para o diálogo e o ensino de conteúdos de saúde. Acesse aqui o artigo completo, em inglês.
Ações
SBPC lança pesquisa sobre a ciência brasileira – Com o objetivo de compreender as opiniões dos brasileiros sobre suas atividades e sobre a ciência nacional, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lançou a pesquisa “Vozes, Territórios e o Futuro da Ciência Brasileira”. Por meio de formulário online, a pesquisa busca fortalecer seus espaços de participação, ampliar a presença da SBPC nos territórios e dar voz à pluralidade que compõe a comunidade científica e educacional do país. A ideia é tornar a SBPC mais representativa, presente nos territórios e conectada com as reais demandas da ciência brasileira. Para responder, basta acessar aqui. Participe!
Eventos
12º Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura (EDICC) – Organizada pelo Mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Labjor/Unicamp, a próxima edição do EDICC ocorrerá de 21 a 23/10, na Unicamp, e contará com mesas-redondas, oficinas, mostras culturais e apresentações orais presenciais e virtuais. O prazo de submissão de propostas terminou em 10/8, mas as inscrições para ouvintes seguem até 5/10. Para mais informações, clique aqui.
Debates sobre desinformação – A London School of Hygiene & Tropical Medicine, em Londres (Reino Unido), realizará em 15/9, em formato híbrido, o webinário Health Misinformation: UNPACKED. Especialistas em desinformação da própria instituição e de outras universidades, da mídia, ONGs e governo irão tratar dos desafios da desinformação em saúde e discutirão possíveis soluções. O evento é voltado para especialistas em saúde, profissionais de comunicação e, com certeza, divulgadores da ciência, mesmo brasileiros, ainda que o evento deva ter um olhar focado no Reino Unido. Mais informações aqui.
DC inclusiva é pauta de evento – No dia 12, das 15h às 16h30 (horário de Brasília), acontece o “Talk STEM to Me: How to Foster Inclusive Science Communication”, evento gratuito e híbrido promovido pela Academia de Ciências de Nova York. O encontro propõe refletir sobre como tornar a ciência acessível e relevante para pessoas de todas as origens, identidades e habilidades. A programação inclui um painel com especialistas que discutirão estratégias de como aproveitar as experiências vividas para uma DC inclusiva e eficaz. Para participar, inscreva-se aqui.
Oportunidades
Dossiê “Diálogos entre Ciência e Sociedade” – A revista Espaço Pedagógico está recebendo, até 30/9, artigos para um dossiê sobre divulgação científica. O dossiê vai explorar reflexões sobre aspectos teóricos e práticos da área, destacando abordagens inovadoras que promovam a interação entre ciência e sociedade. Dentre os temas a serem abordados estão clubes e feiras de ciências, espaços formais e não formais de educação, estudo de público, políticas públicas de popularização da C&T, participação cidadã, inclusão social e acessibilidade e ciência e arte. Para mais informações e submissões, acesse aqui.
Bolsas para o Fórum de Jornalismo Científico 2025 – Marcando sua primeira edição híbrida, o SJF25 acontecerá de 27 a 30/10 nos Emirados Árabes Unidos. Os organizadores estão oferecendo bolsas para cobrir o valor do ingresso no evento, que poderá ser acompanhado presencialmente ou de forma remota. O formulário de inscrição exige amostras de trabalho dos candidatos, em seu idioma original. Acesse aqui e confira.
Tem uma sugestão de notinha para a próxima edição do boletim Ciência & Sociedade? Oba! Envie para o e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
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Ciência & Sociedade é o informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz). Editores de Ciência & Sociedade: Carla Almeida e Marina Ramalho. Redatores: Luís Amorim e Rosicler Neves. Projeto gráfico: Barbara Mello. Informações, sugestões, comentários, críticas etc. são bem-vindos pelo endereço eletrônico <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>. Para se inscrever ou cancelar sua assinatura do Ciência & Sociedade, envie um e-mail para <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.
* A seção Especial Desinformação é uma iniciativa do projeto “O desafio da desinformação em saúde: compreendendo a recepção para uma melhor divulgação científica”, contemplado pelo Programa Proep 2022, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e do CNPq.
Publicado em 13 de agosto de 2025.