Por Rodrigo Narciso, Teresa Santos, Kelly Toledano, Renata Bohrer e Cláudia Marapodi
A curiosidade moveu visitantes de diferentes idades durante o segundo dia da 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia na Fiocruz Manguinhos (RJ). Atividades nos mais diversos formatos ocuparam 18 espaços do campus, promovendo interação e compartilhamento de saberes entre pesquisadores e estudantes.
A Feira da Ciência, que este ano ocupa o estacionamento do Instituto Nacional de Qualidade da Saúde (INCQS) com uma tenda de 532m², recebeu ações promovidas por diferentes unidades da Fundação e encantou os visitantes. “A gente vê no rosto das crianças a alegria das descobertas que abrem os horizontes”, afirmou Lucia Helena da Silva, vice-presidente da Asfoc-SN, que visitou tenda da SNCT para ver o que colegas de outras unidades estão expondo.
Um mergulho em uma tenda azul e você está na atividade ‘A vida na Água: Uma Experiência Científico-Interativa’, da Vice-Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação / Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do Instituto Oswaldo Cruz (VDPDT/LADTV/IOC/Fiocruz). A atração da Feira da Ciência reuniu vários laboratórios do IOC, incluindo o estande ‘Programa Agente das Águas’, do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental (Lapsa). A pesquisadora Luciana Ribeiro Leda explicou que o programa é voltado para determinar a qualidade da água dos rios por meio dos insetos aquáticos. No estande, era possível ver de perto vários desses grupos de insetos a olho nu e com o auxílio de lupas e microscópio.
Você tem fome de quê? Essa pergunta deu título a uma atividade promovida pela Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. A ação abordou temas como alimentação saudável, segurança alimentar e agroecologia. A atividade é vinculada à campanha pelo ‘Direito Humano à Alimentação Adequada – DHAA’, que envolve a ONG Centro de Ação Comunitária (Cedac), a Fiocruz, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre as dinâmicas realizadas, crianças participantes foram desafiadas a descobrir pelo aroma e pela forma as frutas escondidas em uma caixa. A proponente Carolina Niemeyer explicou a importância de trabalhar o tema alimentação saudável. “Em 2019, saiu um artigo muito emblemático alertando para uma sindemia (duas ou mais epidemias) global de obesidade, insegurança alimentar e mudança climática, que tem a ver com o padrão de alimentação que a gente tem na atualidade”, ressaltou.
O estande ‘O Patrimônio Cultural sob o risco das águas’, do Programa de Pós-graduação em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz), buscou conscientizar a população sobre o efeito das mudanças climáticas no patrimônio cultural brasileiro, principalmente no Rio de Janeiro. A atividade também trouxe mapas do Rio com projeções do avanço do nível das águas nos cenários de 2030, 2060 e 2100.
Você já comeu uma flor de jambu? E a folha de plantas do gênero Stevia, aquelas que dão nome ao adoçante? Na Feira da Ciência da 22ª SNCT na Fiocruz, foi possível provar e se surpreender com as sensações que essas plantas despertam nos nossos sentidos. Além da degustação, também foi possível sentir o cheiro de várias espécies vegetais e conhecer uma horta vertical. A atração está no estande “Disseminação do conhecimento das plantas”, uma iniciativa do Horto Escola de Plantas Medicinais da Fiocruz Petrópolis/Fórum Itaboraí.

Ciência para todos
A SNCT também é um espaço para se falar e promover a inclusão. A Feira de Ciência Decolonial, que fica até quinta (23/10) no Centro de Recepção do Museu da Vida Fiocruz, é um atrativo para quem curte curiosidades e invenções. Desenvolvida pelos alunos do Programa de Iniciação à Produção Cultural (Pró-Cultural/MVF/COC), a feira apresenta personalidades negras protagonistas de produções científico-tecnológicas ancestrais e contemporâneas. Os próprios alunos são os monitores do percurso que desvenda os rostos por trás de invenções como papiro, escova de dente, absorvente, teste de gravidez e a vacina Pfizer BioNTech da Covid-19, entre outras. A atividade foi inspirada pelo livro ‘História Preta das Coisas’, de Bárbara Carine.
A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) trouxe duas atividades sobre deficiência para a Feira da Ciência: ‘Reflexões anticapacitistas sobre os direitos da pessoa com deficiência’ e ‘Acessibilidade na Comunicação: direito de todas as pessoas’. Os estandes compartilharam muitas cartilhas voltadas para acessibilidade, com orientações para trabalhadores e gestores de saúde sobre atenção à saúde de PCDs.
O ‘Cine Acessibilidade’, projeto da VideoSaúde Distribuidora ( Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde – Icict/Fiocruz) exibiu os filmes ’Ciência Delas’ e ‘Futuro Delas’ no auditório do Museu da Vida Fiocruz. O projeto tem o objetivo de promover uma experiência inclusiva voltada à comunidade surda, oferecendo exibições em Libras e debates mediados por intérprete. A coordenadora de distribuição da VideoSaúde, Claudia Lima, explicou que “o objetivo desse trabalho é esclarecer o que é a equidade e mostrar que todas podem e devem fazer ciência. Queremos motivar e inspirar essas meninas e mulheres a acreditarem em seus potenciais.”
O enfoque territorial foi tema do ‘Jogo da memória com mapas do território Maré/Manguinhos’. Alunos do GET Escritor Bartolomeu Campos de Queirós, do Complexo da Maré, brincaram e interagiram com um mapa da região onde vivem. A ação faz parte do Projeto de Educação Ambiental e Popularização da Ciência Territorializada (PEAT) – Maré-Manguinhos, organizado pelo Museu da Vida Fiocruz. Segundo o coordenador do PEAT, Fábio Oliveira, “90% dos alunos que vêm aqui não conhecem a vizinhança, ou seja, moram aqui, do outro lado da passarela, e nunca atravessaram. Então, fazemos também essa popularização do próprio Museu da Vida”.
Da Amazônia à Antártica, muito a explorar
A simulação de acampamento antártico, que faz parte do projeto Fioantar (Programa da Fiocruz na Antártica), recebeu adultos, crianças e jovens. O biólogo Roberto Vilela abordou a importância do projeto. “É um ambiente completamente desconhecido, mas que tem intercâmbio com o sul da América do Sul. Isso o torna um vetor de transmissão de doenças, como o H5N1 (gripe aviária)“, comentou. A iniciativa conta com parceria da Marinha do Brasil.
A interdependência de ecossistemas também teve destaque no bate-papo com o pesquisador Rômulo de Paula Andrade, autor do livro ‘Amazônia na era do desenvolvimento: saúde, políticas e destruição, 1930-1966’, lançado pela editora Fiocruz. “Vocês podem esquecer que a Amazônia existe, mas a existência dela vai impactar nossa vida” enfatizou Andrade na conversa com alunos do 9º ano do Instituto Federal do Rio de Janeiro, evidenciando que o desmatamento no norte do país traz impactos para o clima de outras regiões.
Tecnologia, arte e saúde
Professores e alunos do C.E. Vila Guarani, de São Gonçalo, também assistiram a peça “É o Fim da Picada!” na Tenda da Ciência Virginia Schall. Com humor e improviso, a apresentação teatral que faz parte da programação regular do Museu da Vida Fiocruz trouxe informações sobre prevenção de doenças como Dengue, Zika e Chikungunya. A coordenadora da escola Cláudia Galvão reconheceu a importância do evento para os jovens: “Nossa escola fica em uma região de difícil acesso, quase não conseguimos sair. Os alunos ficaram encantados. É um passeio muito rico, que traz esclarecimento e mostra outras perspectivas para eles”, destacou.
Um tótem interativo com uma figura animada de Oswaldo Cruz, que conversa com o público por meio de uma tela, uniu inovação e conhecimento na atividade ‘Oswaldo.AI: Um Estudo Temático de Interações Humano/LLMs’, do do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde (CTIC/Icict/Fiocruz). Ainda em fase de testes, o projeto tem como objetivo funcionar no futuro como um sistema de recomendação de obras do acervo da Biblioteca de Manguinhos, utilizando inteligência artificial para ajudar os visitantes a descobrirem conteúdos relevantes. “Ainda está um pouco longe da IA substituir o ser humano. A inteligência artificial que temos hoje no mercado funciona basicamente da forma como foi projetada. Então, tudo que ela tem que fazer é calcular a probabilidade de todas as palavras possíveis para formular a próxima resposta. E essas probabilidades são influenciadas pela base de dados que ela detém”, explicou André Ribeiro, do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde (CTIC/Icict/Fiocruz).
A 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia na Fiocruz é uma realização da Fundação Oswaldo Cruz. O evento conta com recursos oriundos da Fundação Oswaldo Cruz, da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI, como parte do Programa Nacional de Popularização da Ciência – Pop Ciência. Tem apoio da Associação Amigos do Museu da Vida Fiocruz (AMVF) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e parceria da Pró-Reitoria de Extensão | PR-5 da UFRJ. Faz parte das comemorações de 125 anos da Fundação Oswaldo Cruz.
Publicado em 23 de outubro de 2025.


